quinta-feira, 31 de março de 2011

Dica para terça à noite no CCBB

Queridos, terça à noite começa o meu projeto Filosofia do Rock no CCBB, estão todos convidados.
Pode interessar a vocês porque vamos falar sobre Bob Dylan e Walter Benjamin
http://revistacult.uol.com.br/home/2011/03/mentes-e-ouvidos-atentos/
Abraços da
Márcia

domingo, 27 de março de 2011

O Belo, o Sublime e o Feio

Por Vinicius Tavano
Em uma das auas da proofessora Marcia tratamos do conceito de Belo, Sublime e Feio. Refletindo sobre aquele encontro, e a interessante discussão que se desenvolveu durante o periodo, resolvi escrever essas poucas linhas como forma de expressar minhas reflexões sobre o tema.
Segundo o dicionário Michaelis, belo significa:
adj (lat bellu) 1 Que tem beleza; formoso, lindo. 2 Que tem proporções harmônicas. 3 Agradável ao ouvido. 4 Distinto, escolhido. 5 Ameno, aprazível, sereno. 6 Feliz, próspero. 7 Robusto, vigoroso. 8 Emprega-se com um sentido mal definido, e pouco mais ou menos equivalente ao do indefinido certo: Um belo dia, resolveu entrar para o convento. sm 1 Caráter ou natureza do que é belo. 2 Conjunto harmônico de certos caracteres ou qualidades que despertam na alma sentimento de prazer e admiração.

Sublime, pelo mesmo dicionário apresenta o seguinte significado
adj m+f (lat sublime) 1 Que é dotado de uma elevação excepcional. 2 Lit Diz-se do estilo nobre, que se observa nas produções literárias e artísticas de relevo e brilho fora do vulgar. 3 Que atingiu grande perfeição intelectual ou material. 4 Elevado nas suas palavras, nos seus atos; grande, majestoso, nobre. 5 Muito excelente, muito nobre; poderoso, subido. 6 Esplêndido, magnífico. 7 Agradável, encantador. 8 Extraordinário, grandioso, soberbo. sm 1 A mais elevada expressão da perfeição estética; o mais alto grau da beleza artística. 2 O que há de mais elevado nos sentimentos, nas ações.

E o feio:
adj (lat foedu) 1 De aspecto desagradável. 2 Desproporcionado, disforme. 3 Indecoroso, torpe. 4 Oposto à beleza moral. 5 Insuportável. 6 Reg (Centro e Sul) Magriço; diz-se geralmente de animais. sm 1 Homem de feições desagradáveis. 2 Coisa feia. 3 Fealdade. 4 Situação desairosa. Feio de doer: muito feio, horroroso.

Mas se nos esquecermos das palavras e pensarmos em nosso intimo, o que é o belo? O que pra mim é sublime? O que significaria o feio?
Iniciando com uma sátira!
Será que isso é belo?
Agora falando sério.
Uns podem achar as images a seguir belas, outros poderão achá-las feias, as impressões de cada um seguirão de acordo com seu intimo, com suas crenças, com seus valores.
Observem, classifiquem as, façam seu juizo, de acordo com suas crenças e valores.










Observamos, opinamos, classificamos, jugamos. Todos nós, seres dotados de razão, inspecionamos, avaliamos, apreciamos, censuramos, notamos, taxamos, corrigimos, mas poucos de nós notamos que o mundo está de cabeça para baixo.

Postado por Vinicius Tavano

quinta-feira, 24 de março de 2011

FILOSOFANDO NA BANCA DE JORNAIS

Não assino revistas. Gosto de “visitar” as bancas de jornais. Não só para escolher uma ou duas publicações, mas para olhar as capas, folhear, xeretar. Tem de tudo: gastronomia, bordado, pornô, história, misticismo, psicologia, filosofia, cinema, grandes invenções, mercado de trabalho e receitas para se tornar um Bill Gates.  Mas o que sempre mais me intrigou é a sobrevivência editorial das ditas revistas populares femininas. Aquelas que trazem em detalhes coloridos as “intimidades” das eleitas  celebridades.

Nelas, as leitoras (grande maioria) ficam sabendo quem transou com quem, quem casou com quem, quem brigou com quem, quem viajou para onde, quem teve filho de quem e outros segredinhos dos “artistas”. Por muito tempo, acreditei que a principal origem da atração por essas publicações fosse a fofoca. Ao desejo incontrolável do fuxico e da maledicência reinante entre vizinhos, amigos e familiares transportado para o mundo mágico da televisão e dos abonados. Afinal, a conversa muda quando o agressor de mulher é o Dado Dolabella, a detida por roubo de calcinhas é uma bela e rica atriz de Hollywood e a briga de casais envolve Lázaro Ramos e Taís Araújo. Afinal, a fofoca, o “comentário sem maldade”, é um exercício cotidiano, moral e socialmente aceito, do impulso destruidor do homem pelo homem. 

Mas a coisa vai além. Essas revistas colocam as leitoras dentro da “vida” de personagens considerados ídolos, por serem atores, cantores, mulheres de jogadores de futebol ou apenas ricos. Elas participam das viagens à Europa, dos casamentos luxuosos, dos banhos de piscina, das festas de gala, das estréias de shows. As páginas coloridas as colocam lado a lado com as celebridades do momento, já que na maioria dos casos a concessão do título é efêmera.

Será que os editores leram Walter Benjamin? Pergunto, porque as origens da grande procura por essas publicações (segundo jornaleiros, algumas chegam a esgotar em dois dias) podem ser avaliadas a partir da leitura do texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. A receita de sucesso de vendas tem como ingrediente principal a fantasiosa inclusão dos mortais no mundo dos deuses da mídia, o que reflete a preocupação apaixonada das massas modernas de fazer as coisas ficarem mais próximas. A “mitologia das celebridades” é reproduzida através dos recursos de comunicação (não artísticos) da fotografia. O que pode ser analisado não apenas no âmbito da reprodução de imagens, da valorização da exposição, mas também da massificação de desejos e valores, da universalização do que é belo, do que é o sucesso, do que é a felicidade.  

Nota de rodapé: Eu assisto televisão. Às vezes por pura necessidade de entorpecimento (devido aos raríssimos conteúdos de qualidade) e outras para tentar entender a origem de certos “fenômenos de audiência”.

Maria Cristina

terça-feira, 22 de março de 2011

Trágico, terror, vandalismo, Stockhausen, arte, pichação....

Como na última aula foi falado sobre o trágico, tanto no contexto grego antigo como na utilização usual da sociedade contemporânea, ligado a acontecimentos catastróficos, não pude deixar de lembrar da polêmica gerada pelas palavras do compositor Karlheinz Stockhausen sobre uma das maiores catástrofes desse início de século, o ataque ao World Trade Center, em Nova York: “das größte Kunstwerk, das es je gegeben hat” ( http://www.stockhausen.org/hamburg.pdf ), ou seja, “a maior obra de arte que já existiu”.

A partir disso lembrei também da nossa primeira aula, quando o assunto pichação entrou em cena e o questionamento entre arte e vandalismo foi feito. É arte ou vandalismo? Quais os limites?

Como no caso de Stockhausen, entendo que o mesmo questionamento pode ser feito. Arte ou terrorismo?

Para além dessas questões eu também me pergunto: Por que um “ou” outro? O fato de alguma produção estético-cultural, como certas pichações ou mesmo o ataque às torres de Nova York (guardadas as devidas proporções, é claro!) ser criminosa, invalida sua inserção ao mundo das artes? Será que não há possibilidade de serem um “e” outro?

Não há como negar o caráter performático de uma pichação em um prédio privado, por mais que isso seja crime. Não há como negar que o ataque ao WTC também foi uma performance, feita para o mundo ver, capaz de produzir experiências estéticas em pessoas das mais diversas culturas, nos mais diversos lugares do planeta; uma performance capaz de arrebatar um público de milhões, feito esse que nenhuma obra de arte já produzida na história da humanidade foi capaz de alcançar – foi esse o ponto de vista de Stockhausen.

Será que o fato desta performance ter sido um ato terrorista brutal e abominável diminui sua potência artístico-expressiva, sua capacidade de produção simbólica?

Sendo a sociedade contemporânea marcada pela complexidade, creio eu que o “ou” não seja capaz de explicá-la (se é que um dia foi capaz de explicar o que quer que fosse).

Entendo também que o fato de chamarmos tais atos de arte parece endossá-los (tanto que foi essa a crítica feita pelo compositor György Ligeti a Stockhausen), parece dar-lhes um sentido positivo. Mesmo tendo sido capazes de apreender o feio, o grotesco, o incômodo, o inquieto, como arte, vemos a arte como uma produção positiva, benéfica à sociedade e seus indivíduos. Nunca como criminosa. Soma-se a isso a dificuldade de vermos um ataque terrorista ou um ato de vandalismo como produto da nossa própria sociedade, ou seja, de nossa própria criação. Tendemos a vê-lo como algo feito por outros contra nossa sociedade, quase como um ataque alienígena. O que deveria servir para reflexão e transformação da sociedade acaba reforçando os mesmos paradigmas geradores do problema.

Na verdade a discussão sobre arte feita aqui, a meu ver, é secundária. Ela traveste uma discussão ética em que o importante é descobrir a ideologia que está por trás das diversas concepções sobre arte, a ideologia por trás dos critérios de validação ou invalidação de um ato ou objeto enquanto arte.


De qualquer maneira, acho que o assunto dá um bom debate.


Grande abraço a todos

Lazlo Rahmeier

A morte do cisne por John Lennon da Silva

Vale a pena assistir...



Se é belo, feio, diferente, não sei...mas fiquei impressionada....

Laima Liblik

sábado, 19 de março de 2011

38 maneiras...

Galera, lembrei do texto do Schopenhauer (encontrado no livro A arte da controvérsia) que a Márcia citou e achei um resumo sobre as "38 maneiras de vencer uma debate". Uma delícia...rs...

A arte de discutir, e discutir de forma a vencer um debate, quer se esteja certo ou errado, por meios lícitos ou ilícitos. Um homem pode estar objetivamente certo, e ainda assim aos olhos de espectadores, e por vezes a seu próprio ver, parecer estar errado”.

Nº 1. Leve a proposição do seu oponente além dos seus limites naturais; exagere-a. Quanto mais geral a declaração do seu oponente se torna, mais objeções você pode encontrar contra ela. Quanto mais restritas as suas próprias proposições permanecem, mais fáceis elas são de defender.

Nº 2. Use significados diferentes das palavras do seu oponente para refutar a argumentação dele. Exemplo: a pessoa A diz: “Você não entende os mistérios da filosofia de Kant”. A pessoa B replica: “Ah, se é de mistérios que estamos falando, não tenho como participar dessa conversa”.

Nº 3. Ignore a proposição do seu oponente, destinada a referir-se a alguma coisa em particular. Ao invés disso, compreenda-a num sentido muito diverso, e em seguida refute-a. Ataque algo diferente do que foi dito. 

Nº 4. Oculte a sua conclusão do seu oponente até o último momento. Semeie suas premissas aqui e ali durante a conversa. Faça com que o seu oponente concorde com elas em nenhuma ordem definida. Por essa rota oblíqua você oculta o seu objetivo até que tenha obtido do oponente todas as admissões necessárias para atingir o seu objetivo.

Nº 5. Use as crenças do seu oponente contra ele. Se o seu oponente recusa-se a aceitar as suas premissas, use as próprias premissas dele em seu favor. Por exemplo, se o seu oponente é membro de uma organização ou seita religiosa a que você não pertence, você pode empregar as opiniões declaradas desse grupo contra o oponente.

Continue lendo AQUI 

Sérgio Pereira

sexta-feira, 18 de março de 2011

CURIOSIDADES SOBRE MITOLOGIA: O DEUS CRONOS

Na últimas duas aulas - 10 e 17.03.2011 - muito se falou sobre DEUSES mitológicos ( Apolo e Dionísio, por exemplo) e sobre o TEMPO. Este que o Capitalismo nos tira para nunca mais recuperá-lo devido a nossa condição MORTAL.

Em especial, resgato a imagem do quadro do grande pintor Goya ("Cronos comendo seus filhos") exibida no datashow pela prof.a Marcia Tiburi.

Cronos comendo seus filhos
                              do pintor Goya

A título de curiosidade, gostaria de fazer uma pergunta para os meus colegas de classe ( principalmente os colegas que percebi que não tiveram contato com estudos de Mitologia Grega) com a seguinte questão:

P: Vocês sabiam que o nosso tempo é chamado CRONOLÓGICO por causa da sua relação com a história do deus CRONOS?

R.: A casa segundo do relógio são gerados novos seres humanos e é este mesmo TEMPO que nos gera - que nos dá a VIDA- que nos devora a cada dia (um dia a menos, sempre). Assim, MORREMOS a cada dia, inevitavelmente, tal qual ocorria com os famosos deuses da mitologia quando eram devorados por Cronos, seu pai, ainda recém-nascidos.

A história do deus CRONOS  - que com a deusa RÉIA gerou HÉSTIA, DEMÉTER, HERA, HADES, POSÍDON E ZEUS - ilustra bem esta idéia.

Cronos devorava todos os filhos assim que deixavam o ventre sagrado da mãe, pois não queria que ninguém lhe sucedesse. E devido a isto, Réia sentia uma dor insuportável cada vez que isto acontecia. Mas chegou um momento em que ela resolveu esconder seu caçula - Zeus - numa caverna na montanha coberta de bosques de Egém, na escuridão da noite do eminente nascimento. Longe das vistas de Cronos.

No lugar do filho recém-nascido, a deusa lhe deu uma pedra coberta com tecido e ele a engoliu sem perceber nada.

Resumidamente, após isto, " Crono foi vencido pela força e pela astúcia traiçoeira de Zeus, e até devolveu de dentro de si os filhos engolidos..."

Quem dera um dia o ser humano ser libertado do TEMPO que nos desseca a cada dia... desejo este oculto em qualquer mãe que gera um filho sempre pensando na VIDA e gerando VIDA, enfrentando assim a MORTE (de uma certa maneira).

Obs.: Para saber mais sobre a história do que aconteceu com Cronos e com Zeus em detalhes, leiam OS DEUSES GREGOS, de Karl Kerényi, página 29 e 30. Sobre Dionísio e Apolo, o mesmo livro poderá servir de leitura inicial complementar.

Espero que tenham gostado!

Cíntia R. Rondon

quinta-feira, 17 de março de 2011

Onirokit

Onirokit

Este é o texto da Cult comentado hoje na aula da Marcia.
Pensei em quantos onirokits já "comprei" ao longo da vida, na esperança daquele prazer imediato, que te invade e embriaga!! Faz o mundo parecer mais iluminado, o tempo em suspensão, o coração a bater mais forte, os objetos de uma beleza rara e as pessoas mais interessantes. Mas o efeito é muito rápido e tudo volta a ser como antes e a fissura se torna presente, fazendo doer cada músculo de nosso corpo.
Então vem a necessidade de que um novo "kit dos sonhos" apareça logo, para que o vazio da mente e da alma possam ser novamente embriagados!!!
Beijo a todos, Lu Deus

Marcia Tiburi discute o Onirokit - ou a estética como drogadição
Publicado em 13 de dezembro de 2010 na revista Cult.
Onirokitsch pode-se pronunciar onirokit. A sonoridade das palavras nos engana. O termo kit permite que imaginemos facilmente uma embalagem bem pensada como as usadas para organizar sachês de chá. Onirokit seria uma caixinha cheia de todas as drogas prontas a provocar em seus usuários aquela sorte de efeitos mentais e psíquicos que conhecemos como alucinações. O termo kitsch, por sua vez, diz de uma espécie de antiestilo cuja característica também é causar efeitos.
Mas há mais no trocadilho do que supõe a filosofia: o que um organizado objeto de desejo – a pandórica caixinha cheia de drogas – teria a ver com a estética kitsch? Ora, as drogas provocam efeitos psicofísicos que nada mais são do que efeitos estéticos. Seja com o onirokit ou com o onirokitsch, estamos a falar do que age sobre a percepção humana. Drogas psicotrópicas e alucinógenas são aquelas que afetam nossa percepção. Do mesmo modo, produtos culturais afetam nossa percepção. Não é improdutivo, nesse sentido, perguntar se o fundamento da indústria cultural não seria a drogadição. Vejamos como.
Naquilo que Christoph Türcke chamou de “sociedade excitada”, está em jogo a natureza viciada e viciante da ordem social estética. Ora, toda droga é estética na medida em que atinge a corporal percepção humana. A injeção de estímulo estético na percepção coletiva até o ponto de transformar a realidade em uma forma de alucinação. Irônico é dizer que, no contexto da indústria cultural, revela-se que o que não pode ser vendido legalmente – drogas – pode ser vendido esteticamente. Mas a droga estética – em sentido lato – não é apenas o trash, ou a imensa gama de “sobra” no lugar do que entenderíamos como “obra” de arte, mas tudo aquilo que captura pelo efeito falso. Para além do fetiche, a mercadoria hoje é experimentada como drogadição. Podemos dizer que a atualíssima forma da mercadoria é, pois, o onirokit, um sonho barato que, visto de perto, faz pensar em alucinação.
Caminho curto para o sonho
Diz-se kitsch para tudo que provoca um específico e contraditório efeito: do anão de jardim à estampa de oncinha. A contradição entre o material pobre e o efeito que se pretende rico – como em “pedras preciosas de plástico”. Tal efeito perturbou os sacerdotes do bom gosto que, irritados com imitações baratas, deram o nome à coisa. Para eles, kitsch é a estética do mau gosto: “coisa de pobre” ou, o que é pior, de “novo-rico”.
Mas o kitsch tem uma vasta clientela, como teria o onirokit caso pudesse ser vendido em quiosques de shopping center. O kitsch vem a ser a reconciliação das contradições do capitalismo que com ele tanto goza quanto se ressente. Como estética do resto, o kitsch está entre o trash e o luxo naquele momento em que o luxo não passa de desejo de causar efeito, mesmo que seja o efeito zero das lojas chiques. Onirokitsch foi o termo cunhado por Walter Benjamin para falar deste “caminho direto à banalidade” que prenunciava o conceito de indústria cultural de Adorno e Horkheimer. Benjamin falou de um sonho “adornado baratamente de frases feitas”. Hoje podemos pensar na televisão e nos shopping centers, enquanto ele pensava no cinema e nas Passagens  de Paris. Substitutiva do sonho, a televisão é a principal máquina de produção do onirokitsch. Funcionando como caixinha organizada, não seria exagero chamá-la de onirokit. Mas já não carregamos esse kit, é o kit que nos carrega quando seu nome é sociedade do espetáculo. O espetáculo é o vício visual. A nova fissura.
A sociedade viciada em percepções quer emoções fortes. Quer sentir demais. E paga por elas não apenas correndo ao show de rock, ao cinema, ou pagando a TV a cabo, mas também indo à igreja que vende a fé como grande emoção. Mas há também uma mercadoria mais simples que garante a sensação. É o ornamento barato. O vício contemporâneo em decoração, na moda, no mundo fashion em geral, serve para acobertar a angústia com o espaço aberto do sensível, o deserto do real onde teríamos de colocar o sonho verdadeiro ao qual podemos ainda chamar de imaginação. Drogas ilegais não podem obviamente ser comercializadas, o mundo do capitalismo vende apenas o efeito da droga nas “sobras” que são as mercadorias culturais industrializadas. Se o onirokit não pode não ser legalizado, o onirokitsch acha rápido seu lugar. A violência da decoração de Natal dos shoppings e das grandes cidades é, por fim, o triunfo da alucinação no tempo da miséria da imaginação. O deserto do real é a esfera que a arte acaba por salvar em  cada uma de suas ações mesmo quando a realidade não passa mais da terra de ninguém onde a fantasmagoria, as sombras da imaginação colonizada e assassinada, vem reclamar seu lugar.

" Pictorial Turn "

Queridos colegas, não sei se todos acompanharam a entrevista de 
W. J. T. Mitchell, professor de História da Arte
e de Inglês na Universidade de Chicago. 
Segue um FRAGMENTO MUITO PERTINENTE  para nossa aula com Márcia.
Ele é editor do periódico Critical Inquiry e autor de
diversos livros e artigos. 

Focando seus estudos
na problematização da interface entre visão e
linguagem nas artes plásticas, na literatura e
na mídia, Mitchell propõe métodos bastante
originais de se abordar as imagens, construindo
novas perspectivas para o que ele denomina,
seguindo Panofsky, uma Iconologia. Em suas
reflexões, cunhou a difundida expressão “virada
imagética” (pictorial turn). O que justifica a
noção de uma “virada”, diz o autor,
[...] não é o fato de termos um poderoso modelo
das representações visuais que estaria ditando
os termos da teoria cultural, mas sim que as
imagens constituem um ponto de peculiar fricção
e desconforto junto a uma larga faixa de questionamentos intelectuais. A imagem agora goza
de um  status localizado em algum ponto entre
aquilo que Thomas Khun chamou de “paradigma” e uma anomalia, emergindo como um tópico
central de discussão nas ciências humanas do
mesmo modo que a língua o fez: ou seja, como
um tipo de modelo ou figura para outras coisas
[...], e como um problema não solucionado, talvez
até mesmo como objeto de sua própria “ciência”,
aquilo que Panofsky chamou de “Iconologia”.



Ainda há muita discussão sobre a noção de
“sociedade do espetáculo” ocorrendo no
campo da Comunicação. Como você mesmo
observa em What do pictures want?, a posição
de Debord pode ser interpretada como
sendo bastante iconoclasta e mostraria um
desconforto com a imagem que pode ser sentido
– novamente, como você observa – em diversas
disciplinas em nossa era. Esse desconforto,
parece, foi o que o levou a cunhar a expressão
“virada imagética” (pictorial turn). O senhor poderia comentar um pouco sobre a virada
imagética e sobre a noção debordiana de uma
“sociedade do espetáculo”?

Penso que Debord nos ofereceu uma
intervenção crucial para a crítica da
imagem, mas duvido de sua adequação
ao nosso momento atual. O iconoclasmo
é muito maniqueísta e muito preso a um
ódio da cultura de massa e da mídia, vistas
como meros instrumentos do capital. Acho
que estamos agora em um novo regime
midiático que está oferecendo experiências
sociais e psicológicas diferentes – dentre as
mais dramáticas, a emergência do que Lev
Manovich denomina “mídia social” (YouTube,
a internet de modo geral), que torna novos
movimentos sociais possíveis. A eleição de
Obama é em parte um produto desta revolução.
Se quiserem uma crítica mais desenvolvida
de Debord como guia para a crítica em nosso
tempo, sugiro que vejam meu artigo “The
Spectacle Today” (2008b). 
* a entrevsista  pode ser acessada pelo email que recebemos do programa EAHC.
boa aula para todos, hoje a tarde!
Monica B.

sugestão de leitura

Caros, como vamos falar muito durante todo o semestre sobre o sentido da representação do sofrimento, leiam o texto deste link http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/files/active/0/aula_8.pdf
Um abraço a todos e até a tarde
Márcia

Banca de doutorado prof. Telles

Bom dia todos...

Entrevistamos um professor da Faculdade de Arquitetura esta semana para o trabalho da professora Mizukami... Prof. Telles
E podemos dizer que foi uma verdadeira aula.... Vocês sabem aquele professor que fala da educação com brilho nos olhos?.... Pois é, aquele professor que vc começa a ouvir e não quer parar....
Mas, estamos falando dele, pois dia 25 de março âs 10hs será a banca do seu doutorado, e achamos o tema pertinente ao nosso blog....
Quem tiver interesse o tema é: GRAFITE COMO EXPRESSÃO DE ARTE NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS: INTERVENÇÕES EM SÃO PAULO.

Vale a pena... é fascinante ouvi-lo falar....

Laima, Ligia e Cintia

terça-feira, 15 de março de 2011

Uma leitura recomendada

Oi pessoal,

Gostaria de recomendar um livro, muito rico, sobre a nossa última aula com a Marcia:

"Beleza,Feiúra e psicanálise" - Chaim Samuel Katz, Daniel Kupermann e Viviane Mosé -organizadores   Ed. Contra capa.

É uma obra que ilustra o assunto Belo, Feio, Sublime e Grotesco através de 13 ensaios de filósofos, psicanalistas e pesquisadores de ciências humanas e sociais.
A proposta é suscitar reflexões éticas, estéticas e políticas não só acerca dos padrões rígidos de beleza em nossa cultura mas também sobre a expressão criativa das subjetividades de nosso tempo.

Abraços, Luciana Deus

domingo, 13 de março de 2011

belo e sublime

...achei muito bom o vídeo, bem o que a professora Márcia explicou em aula..

O Belo e Sublime em Hegel. Breve apresentação quanto as qualidades gerais dos filósofo alemão. Video apresentado, originalmente, em 19/10/10, para alunos do curso de Filosofia da PUCRS, na disciplina de Estética.

http://www.youtube.com/watch?v=6tid_4tfyi4

abs

Edi

Umberto Eco

Um pouquinho sobre o belo e o feio nas palavras de Umberto Eco...



Bom domingo,

Laima Liblik

sábado, 12 de março de 2011

BLACK AND WHITE

Preto ou branco? isso!!! Preto ou branco?
Cisnes = aves aquáticas, brancas, coloridas....pretas!!!
...e de acordo com estímulos!! vida, lucidez, estase...é o que você quer que seja e como você quer que seja ....pense!!
O ser branco, ou o animal branco, já esta dentro de cada um de nós, assim como, o animal preto, porém, com um grande diferencial, não “podemos” deixar o black aparecer, precisamos diante de uma sociedade medíocre deixar florar o branco, precisamos representar. Isso!!! Representar sim!!, pois a partir do momento que deixarmos o animal enfurecido florar, passaremos a sermos vistos como loucos, malucos, diferentes...é...diferentes...sim, é o que todos queremos ser, todos em algum lugar ou momento... diferentes!!!, querendo mostrar a perfeição, perfeição esta que fará a sociedade ou a platéia nos aplaudir de pé, que nos fará vencedores, vitoriosos, mas e nós!!!???
Dentro de nós...quem estará?
O branco ou o preto?...quem estará sempre sendo representado???!!!

As obras de Marx e Freud, ambos  influentes no pensamento de Adorno. (...) A razão é constituída socialmente e ligadas a interesses, valores, etc. As representações que os seres humanos criam são sociais e ligadas ao seu modo de vida e interesses e valores derivados daí, e, por conseguinte, as relações sociais determinam o processo racional (Marx, 1983; Marx & Engels, 2002). Freud resgatou não o "irracional", visão pejorativa do que não seria o "racional", e sim o mundo do inconsciente, dos desejos reprimidos e mostrou que não existe razão pura, que esta está perpassada pelo inconsciente (Freud, 1978b).

Huxley, de Admirável mundo novo”, ah, este sim...com certeza diria, que atingiremos a perfeição e que, mudanças tecnológicas rápidas, verificadas numa economia de produção em massa, sempre tendem a provocar confusão. Será que em algum momento durante o filme não nos sentimos confusos? Poderíamos ai termos nos “alimentado de soma.

Voltando ao cisne, qual pai ou mãe em alguns, ou quem sabe me muitos momentos de nossas vidas não interferiram, no sentido de nos guiarmos a determinados lados? Sigam este ou aquele caminho. Este lhe trará danos e este outro lhe trará bônus (por exemplo). Quem de nossos pais em algum momento não se sentiu na obrigação de intervir em nossas vidas, principalmente quando jovens, crianças, adolescentes então ! Mas o bicho negro guardado dentro de cada um de nós foi vencedor, pelo melhor ou pior...cabe a cada um definir....ou visualizar o trajeto percorrido, sempre pensando e repensando que este poderá ser alterado a qualquer momento.

Sempre ou na maioria das vezes em que fomos e que somos desafiados, o cisne black aparece, reaparece e mostra suas garras afiadas, se alguém achar que não estamos bem, ele aparece em nossa pele com tal fúria que muitas vezes nem conseguimos saber de onde vem tanta força, estimulo e vontade para determinado desafio e o vencemos, sim o vencemos porque fomos desafiados, nossa pele foi rasgada, machucada, o coração ferido, desafiado e enfrentado, isso!! alguem nos enfrenta e nos desafia, ai o White que esta tranqüilo, dormindo, continua em seu sono profundo para deixar o black explodir em êxtasi, como o tsunami do Japão...é!! nos transformamos num tsunami de gloria para vencermos os desafios. Vencidos, o cisne branco do amor, da calmaria, do doce, novamente de deixa envolver, ele toma conta de nossos corpos, parece que vem pra acalmar o animal revolto.
Ao analisar os detalhes da cena de sexo, em que a pele da leoa deixava transparecer os arrepios de emoção, ela já estava deixando o cisne negro incorporado em sua vida transbordar, assim como o mar do oceano Pacífico.
A cena só pode ser concluída porque os atores, as atrizes, estavam realmente incorporados pelo animal do desafio, o black, o bicho, o feio, vencedores diante de uma platéia sem fim, vencedores de títulos cobiçados e encantadores de públicos, sim, encantadores. Desafio conquistado através de uma cobiça vencida quem sabe (como sempre) por uma infinidade de atores/atrizes dispostos e determinados a deixar o doce do branco pelo negro, feroz, incontrolável animal que demonstrou diante de uma infinidade de espectadores o motivo de sua existência.
Essa demonstração é bela ou sublime? Mas o belo, o sublime e o feio se mostraram-se tão próximos e tão distantes, assim como, tão inseparáveis.....e o selvagem?...o quanto deste existe dentro de cada um nós? O quanto cada um de nós deveria ou demonstra sua realeza? MALUQUICE!!

Edi Sartori

Entre Benjamin e Belting



Walter Benjamin
Dois alemães, pilares dos estudos sobre teoria e crítica das artes. Walter Benjamin, por vezes classificado como partidário da Escola de Frankfurt e Hans Belting, historiador contemporâneo das artes visuais, foi professor titular da Universidade de Munique e depois atuante na Escola Superior de Criação, em Karlsrushe, ambas na Alemanha. Em ambos, várias convergências, dos quais destacamos duas.

Quando Benjamin escreveu o ensaio intitulado A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (publicado em 1955), estava apontando o início e o fim de uma era nas artes visuais. Apesar da reprodução sempre ter ocorrido através de exercícios propostos aos discípulos pelos seus mestres (da pintura, por exemplo), a partir da litografia (início do século XIX), o novo tipo de reprodução acelerada levou à perda da autenticidade (o “fazer agora”, em determinado local), ao fim da aura (o singular da obra, o distanciamento entre criador e apreciador) e, o objetivo transposto do mínimo para um máximo de possíveis “clientes” se fez de forma avassaladora. Era o fim de uma maneira de se produzir arte iniciada na modernidade, que irá culminar no final do século XIX e início do XX no desenvolvimento da fotografia, do gramofone e do cinema.

Hans Belting
Nesse sentido, Belting aproxima-se de Benjamin ao propor O fim da história da arte (publicado em 1983), em seu livro homônimo. Belting não está direcionando suas críticas ao fim da feitura das artes ou aos estudos históricos e acadêmicos associados. O que ele discute e promove é uma nova visão sobre a forma de construção de ambas, que, de tão díspares na visão acadêmica tradicional (eurocêntrica e lacrada em sufocantes compartimentos cronológicos), camufla a novidade dos formatos, idéias, movimentos e possíveis entendimentos sobre o contexto da obra, do artista, suas influências e seu período. 

O discurso do “fim” não significa que “tudo acabou”, mas exorta a uma mudança no discurso, já que o objeto mudou e não se ajusta mais aos seus antigos enquadramentos (BELTING, p. 08).

Em outra convergência, quando Benjamin alega que a reprodutibilidade técnica emancipa a arte de sua “existência inútil” e que seu papel é nesse momento, político (BENJAMIN, p. 03), ele traz a problemática da função da arte. 

Se, para Benjamin, o cinema (por exemplo) era um formato artístico possível de campanha política e acesso democrático – “Retrógrada diante de Picasso, ela se torna progressista diante de Chaplin.” (BENJAMIN, p. 10) -, transportando a função da arte, antes ritual, agora para um campo político e social, para Belting o público poderia fazer suas escolhas (BELTING, p. 22), assim como os artistas se tornarem autônomos, a partir desse novo cenário que se desdobra com as novas tecnologias, buscando sua própria ciência e sentido:
A arte autônoma buscava para si uma história da arte autônoma que não estivesse contaminada pelas outras histórias, mas que trouxesse em si mesma o seu sentido. (BELTING, p. 24) 

            Se houve mudanças nas artes, sua história deve acompanhá-las. Se elas tiveram um início também promoveram um fim com a chegada de novas linguagens artísticas. Entre Benjamin e Belting, diversos outros “encontros” são possíveis, trazendo para o arcabouço histórico das artes a certeza de que “um método” pode ser válido para “um objeto” de pesquisa e, por isso a ciência teórica e crítica das artes não deve parar de se reinventar nunca. 

Sérgio Pereira

sexta-feira, 11 de março de 2011

Imagens Incoscientes

Em consonância com a nossa aula de Teoria  Crítica da Arte da última quinta ,11/03 ministrada pela professora Márcia Tiburi que nos trouxe conceitos de Belo e Feio no plano ´histórico,,traçando uma evolução filosófica sobre o belo,a percepção e o sentimento bem como explicou sobre a existência de gênios defendidos pelos gregos que eram como uma consciência interior ,dentro dos artistas , como se fossem uma expressividade irracional que conduz à criar. À partir desse pensamento que se refere à uma dimensão transcendental ,encontrei no Museu do Prado na Espanha  algumas obras de uma coleção  intitulada “ Imagens Inconscientes”,e resolvi trazer  para nossa turma

Isaac Liberato
Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1906, filho único de um velho e rico negociante. Viveu isolado até os oito anos, longe do convívio com outras crianças. Aos nove anos perdeu o pai, ficando sob os cuidados da mãe.
Aos dezenove anos, realizando um sonho de menino, ingressou na Marinha Mercante como radio-telegrafista, fazendo inúmeras viagens nas rotas internacionais.
No intervalo entre essas viagens namorou uma vizinha loura e bonita. Em 1930, voltando de uma viagem à Europa, casou-se com esta jovem. Três meses após o casamento rompe com a esposa. Em dezembro do mesmo ano é internado no Hospital da Praia Vermelha.
Dezesseis anos depois Isaac começou a freqüentar o recém inaugurado ateliê de pintura da Seção de Terapêutica Ocupacional no Hospital de Engenho de Dentro. Isaac é sempre o primeiro a chegar e procura logo o material para iniciar os seus trabalhos, demonstra grande interesse e prazer em pintar, principalmente telas a óleo. Pintava lentamente e gostava de tocar ao piano, de ouvido, músicas que lembravam Debussy.
A primeira surpresa que a pintura de Isaac nos traz é a flagrante diferença entre a sua linguagem verbal e sua linguagem plástica. Ele raramente constrói proposições – sua linguagem é agramatical e cheia de neologismos. Entretanto, através da linguagem plástica narra uma história diretamente compreensível e concatenada, que jamais verbalizaria.
Desde o início, suas pinturas já prenunciavam o desenvolvimento artístico que ele alcançaria ao longo do tempo, como fica evidente nas paisagens onde vê-se sua procura em reter os reflexos mutáveis da luz e descobrir as nuances das cores.
Entre as diversas temáticas que aparecem em sua pintura destaca-se constantemente a figura da mulher sob mil formas.
No dia 6 de julho de 1966 Isaac chegou ao ateliê, como de costume, por volta das oito e meia. Em sua terceira pintura, retrata a última imagem da mulher amada. Pintura inacabada., Isaac morre com o pincel na mão, vítima de enfarte do miocárdio.

Sobre Isaac
Dos pintores conhecidos da Seção de Terapêutica Ocupacional era Isaac o mais velho, depois de Emygdio, que vivia absorvido nas profundezas de sua pintura. Isaac, porém, com seus dons pessoais cheios de humor e de surpresas, cativava as monitoras e monitores que relembram até hoje suas improvisações ao piano e seus ditos bem-achados: Um exemplo: quando a monitora Maria do Carmo voltou das férias, Isaac muito alegre pergunta: "- Onde você andou? Pensei que lhe tivessem internado no hospício!"
Suas paisagens respondem aos mesmos apelos de subjetividade dos retratos. Estas, com efeito, não deixam de apresentar uma qualidade íntima e seus acordes de cor tendem a fundir-se tonalizados na mesma atmosfera musical. Belo e profundo espírito.
Mário Pedrosa
Mário Pedrosa define Isaac como uma pessoa que "...reduz tudo ao contato interior, sem condutos objetivos, sem rumores de fora, numa vivência que é antes auto-expressão ardente e densa, e pura desmatéria. " Diante de definição tão precisa, ficamos absortos por essas paisagens de cores pálidas e vibrantes, como a incendiar nosso olhar que, de tão externo, esquece o vinculo com a interioridade, que a força plástica de Isaac nos faz lembrar.
Isaac nos oferece paisagens que alternam zonas de cores tranqüilas e extensas com cores que se precipitam em zonas em que o pincel se agita de forma rápida, criando uma composição que é igual às forças da natureza, porque igual à sua natureza interna. A precisão de Isaac nasce de um mergulho na sua interioridade. Essas imagens captam o mistério do olhar, que é ordenar a dispersão, e que Isaac domina porque faz convergir essas imagens para onde o olhar é mais próximo do que ele é, isto é, na desmatéria.
Essas paisagens são quase fugidias: mais um momento estariam dispersas na imaterialidade do tempo. Isaac as retém um momento antes da ida. No momento mais próximo ao da memória; no liminar da dispersão. É no espaço do entre e do quase, que essas imagens se constituem. É na delicadeza da interioridade - dura e sofrida - da constituição de uma subjetividade, que é tomada pelo afeto e pelo amor, que essas imagens vêm à visão.
Essas paisagens são amorosas. São quase declarações de amor. São quase como olhar a mulher amada e fazer o olhar deslizar pela carne, num toque delicado e aveludado, sem tocá-la. Há nessas paisagens uma distância mínima necessária para não nos deixarmos corromper pela crueza da realidade. Há uma sabedoria da desmatéria. Há uma compreensão de uma inocência necessária - estranha talvez para as personalidades de caráter mais belicoso - de que o mundo se dá entre o entre e o quase. É lá que repousa a pulsão plástica. É lá que encontramos a justa distância para que o olhar mergulhe no fundo do poço, que é cada um de nós.
Márcio Doctors







A viagem

Neste carnaval durante a viagem comentei sobre uma aula muito interessante, da professora em questão e uma forma bem original de educar. Suas provocações, aliadas a opiniões bem embasadas, geram discussões acaloradas, às vezes sobre o tema da aula e outras sobre a ministrante e seu método.

No meio da conversa sobre a professora Doutora e filósofa, com meu amigo que cursou filosofia, dei-me conta de que estava começando a filosofar... bem, será que não é esta a verdadeira intenção destas aulas e seu método: Associar teorias com pensamentos críticos, cutucar e nos fazer refletir?

Fui ler sobre o assunto e aprender mais sobre estes pensadores. Aqui vão algumas citações sobre a estrutura do pensar, a título de contribuição:

  • É característica de uma mente educada ser capaz de acolher um pensamento sem aceitá-lo, diz Aristóteles
  • Não há justificativa em se acreditar que haja qualquer necessidade causal no ordenamento dos fatos, segundo David Hume.
  • Uma afirmação faz sentido se ela for verdadeira por definição ou for, a princípio, verificável pela experiência, para Moritz Schlick.
  • A idéia de uma verdade absoluta não nos faz falta, conforme Thomas Kuhn.
Já na praia em plena segunda de carnaval, ao ver um livro de filosofia sobre a mesa, minha sobrinha de 10 anos me disse que está tendo filosofia na escola, e eu perguntei o quê estava aprendendo com isso, ao que ela me respondeu:
_ A pensar!
Pensem a respeito.

Abraços
Egidio S. Toda

PERDOANDO DEUS


CLARICE LISPECTOR

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade.
Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia - e não possivelmente um equívoco de sentimento - que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.
E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.
Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admiro e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado poderia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.
Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.
... mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.

André Albuquerque

quinta-feira, 10 de março de 2011

O belo, o feio e o nojo...

Pessoal,

Selecionei algumas imagens de dois artistas que estão de acordo com os conceitos da aula de hoje.  O que vocês acham?
O primeiro é Robert Mapplethope, fotógrafo americano que clicou a cena sadomasoquista gay e se tornou conhecido na década de 1980 e a segunda é a francesa Orlan que utiliza o próprio corpo como suporte para a sua arte, fazendo intervenções cirúrgicas dentro de galerias.
Para mais imagens, os endereços dos sites são: www.mapplethorpe.org e www.orlan.net

Abraços,

Marcos Chiesa





Ainda sobre o ócio...

Pessoal, complementando a Cintia e a Edi e fazendo uma ligação entre ócio, televisão e capitalismo.

Todos nós sabemos que vivemos sob a ótica do capitalismo e que, raramente conseguimos viver e escapar dos seus domínios, que perpassa todas as esferas da nossa vida.  Todos nós sabemos também que o ser humano é um ser simbólico e que é conectado, desde o seu nascimento, a esta teia de significados chamada sociedade que foi tecida por ele mesmo.

Neste sentido, não podemos pensar no ócio (criativo ou não, não importa aqui), apartado das relações de produção, ou seja, fora do sistema capitalista.

De acordo com o Houaiss, ócio é “cessação do trabalho; folga, repouso, quietação, vagar, preguiça, moleza, mandriice, trabalho leve, agradável...” e lazer é “tempo que sobra do horário de trabalho, cessação de uma atividade; descanso; repouso”. Portanto, ócio é sinônimo de lazer e, do ponto de vista do capital, ao ato de consumir.   O lazer que conhecemos na nossa sociedade atual surge como contraponto ao mundo do trabalho e este sob a égide do capital.

Fazendo uma retrospectiva histórica, é lá nos idos da Revolução Industrial (XVIII), quando os trabalhadores eram levados a exaustão (física/psíquica), que o tempo livre surge com um paradoxo.   Não discutirei o significado de livre, uma vez que seria complicado admitir a existência de um tempo verdadeiramente livre na vida em sociedade, seja regida pelo capital ou não.

De todo modo, o tempo livre era necessário para alavancar o capital, da mesma forma que foi resultado da luta operária pela diminuição do tempo do trabalho que era, em fins do século XIX e início do século XX, de 15 ou 16 horas por dia de segunda a domingo. Na luta pela diminuição da jornada de trabalho, um industrial brasileiro no início do século XX declarou que “a jornada de oito horas apenas aumentará os lazeres alcoólicos e o trabalho da polícia”.

Entretanto, façamos uma pequena digressão.  Consumir, no sentido inglês, até o século XVI, significava destruir. A palavra “consume” (consumir) surge na língua inglesa no século XIV, da francesa “consumer” e “consommer” e da latina “consumere” (absorver por completo, devorar, dilapidar). 

Consumir tinha um sentido desfavorável no sentido de destruição e foi só em meados do século XVIII que apareceu um sentido mais neutro nas descrições da economia, se ligando, portanto, aos pares produtor/consumidor e produção/consumo.  Se a palavra tinha um sentido negativo até o século XIX, ela passou da economia para um uso mais popular e geral no século XX, ganhando uma aparência de autonomia, como no sentido de uma “escolha do consumidor” que observamos na atualidade.

Henry Ford no início do século XX percebeu a lógica do sistema e diminuiu o tempo de trabalho de seus funcionários para 8 horas e ainda distribuiu cinco dólares para cada um. Ou seja, era necessário criar um “consumidor” com escolha própria, nem que fosse para adquirir produtos da concorrência.

Deste modo, a televisão (ver de longe) surge como produto desta sociedade capitalista, mas ela é também (re)produtora desta mesma lógica, propiciando uma nova sociabilidade de consumidores desde o seu surgimento. Muitas pessoas que trabalham com e na televisão ou mesmo apenas seus defensores afirmam que não cabe a ela propiciar um pensamento mais crítico, apenas entreter ou informar.    Ora, informar não é ter conhecimento, que só é possível através de um pensamento abstrato. Aliás, é possível ser muito bem informado sem ter conhecimento. Portanto, a televisão não é a sombra da caverna de Platão. É a própria caverna.

Me recordo agora de um filme documentário chamado Estamira, e em determinado momento a personagem afirma “tudo é abstrato, o mundo é abstrato, eu sou abstrato”.  Fica aqui a dica de um filme sobre uma mulher que vive(u) do lixo chamado Jardim Gramaxo, no Rio de Janeiro.  Não sei bem como é possível um lixo ter nome de Jardim...  

O homo sapiens se fez pela letra, pela palavra, pela escrita, pelos livros e que, portanto, durante a sua história, multiplicou o seu saber.  É um fato, desde Gutemberg. Entretanto, pela primeira vez, com o advento da televisão, temos a primazia da imagem, do espetáculo e do espetacular sobre o som. Aliás, não precisamos nem mesmo do som, pois este está apenas em função da imagem e comenta a imagem. Guy Debord  em seu texto “A Sociedade do Espetáculo” afirmou que “o espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem”.

Ainda no poder simbólico da televisão, crianças são socializadas já nos primeiros anos (meses) diante da televisão.   Ela sequer domina os códigos da linguagem, mas já está lá, com os olhos “vidrados” na tela, que se tornou uma versão moderna de “babá” eletrônica, pois a criança emudece diante do que vê.  É já na primeira infância que estão sendo formados os futuros consumidores, aliás, se observamos a cultura atual, crianças também se tornaram consumidoras de produtos advindos da indústria cultural. 

O  problema surge quando tentamos desvincular o consumo do ócio, e este da televisão, pois a lógica do capital é aproveitar todo o tempo livre para o consumo, ou seja, quando as pessoas não estiverem trabalhando, estarão consumindo.  

Daí é que fico pensando se temos de fato algum tempo que não seja para o consumo dentro da lógica capitalista na nossa sociedade atual.

Não estaremos sempre consumindo algo, quer seja um jeans (peça transformada em ícone pela indústria da moda), um aparelho de televisão, um livro ou uma obra de arte?   Em decorrência, será que temos mesmo a escolha de determinados produtos ou os produtos é que nos escolhem?  Tenho a impressão que as duas coisas.

Pra finalizar, como afirmei no início, não estamos fora desta sociedade e, portanto, consumindo ou não, sempre partilharemos dos mesmos códigos e estes são capitalistas.  Como seres simbólicos que somos, o que importa, talvez, não seja o objeto em si, mas o valor atribuído a estes por cada grupo ou por cada pessoa dentro da sua sociedade.

Quero indicar dois textos curtos para quem quer ler sobre a questão do ócio e que acho interessantes, que são: “O Direito ao Ócio” de Paul Lafargue e “O Elogio ao Ócio” de Bertrand Russell.  É possível encontrar os dois textos em apenas um livro organizado pelo italiano Domenico De Masi.   

Um abraço a todos,

Marcos Chiesa