quarta-feira, 18 de maio de 2011

Câmara escura para o artista

A Filosofia, a caixa Preta e o Artista

384 - 322 a. C. Aristóteles filósofo Grego, observou a imagem do sol projectada no solo em forma de meia lua, ao passar por um pequeno orifício entre as folhas de um plátano. Descobriu também, que quanto menor fosse o orifício, mais nítida era a imagem.

Surge assim, a primeira descrição da câmara obscura.
965 - 1038 Alhazem, sábio Árabe, observa um eclipse solar com a câmara escura: no interior de uma caixa fechada, a imagem exterior, passa por um orifício, projectando-se na parede branca oposta. Este engenho era usado com frequência por sábios Europeus no século XIII, para observação de eclipses solares, sem prejudicar os olhos.

1139 - 1238 Aberto o Grande, conhecia já o nitrato de prata.


1452-1519 Leonardo da Vinci, refere com precisão a utilização da câmara obscura no seu livro de notas, só divulgado no fim do século XVIII


1538-1615 Giovanni Batista della Porta, cientista Napolitano, descreve no seu livro "Magia Naturalis" a utilidade da Câmara escura para o artista. Esta câmara era um quarto escuro que possuía um orifício de um lado e uma parede branca em frente. Ao colocarem um objecto no exterior da câmara diante do orifício, a imagem deste era projectada invertida na parede branca, possibilitando a qualquer pessoa que ignore a arte do pintor, desenhar a imagem de um objecto, com um lápis ou pena.

Em 1620, o astrónomo Johannes Kepler, utilizou a câmara escura para desenhos topográficos. Athanasius Kircher, professor de Roma, em 1646, descreveu e desenhou uma câmara escura que possibilitava ao artista desenhar em vários locais.


Em 1685, Johan Zahn descreve a utilização de um espelho para redireccionar a imagem horizontalmente, para facilitar o desenho em câmaras portáteis.

As câmaras escuras tornaram-se então, um acessório indispensável para o pintor.

Em 1604, Ângelo Sala cientista Italiano, observa um certo composto de prata que escurece quando exposto ao sol. Acreditava-se que o calor era o responsável pelo fenómeno.

1687-1744 Johan Heinrich Schulze, professor de anatomia da universidade de Altdorf, notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso, escurecia quando exposto à luz. Por eliminação de partes, ele demonstrou que os cristais de prata ao receberem luz, e não calor como se suponha, se transformavam em prata metálica negra.


1761-1805 Thomas Wedgwood, imprime com êxito silhuetas de folhas e vegetais, sobre couro branco impregnado de nitrato de prata. Mas, Wedgwood não conseguiu fixar as imagens, apesar de lavadas e envernizadas, elas escureciam quando expostas à luz.

Em 1777, o químico Karl Wilhelm Scheele descobre que o amoníaco actua como fixador de forma satisfatória.

1765-1833 Joseph Nicéphore Niépce, nascido na localidade Francesa de Chalon-sur-Saone, consegue em 1816, 1822 ou 1826, segundo a opinião de diferentes historiadores, a primeira fotografia permanente do mundo: a imagem do seu quintal.

A reprodução litográfica, muito popular na época, entusiasma Niépce que recorre a seu filho, Isidore, para este lhe realizar os desenhos para depois os reproduzir litográficamente.

Com a chamada de Isidore para cumprir o serviço militar, Niépce deixa de poder contar com o seu desenhador e, como não tinha jeito para o desenho, pensa em formas de alternativas para conseguir gravar as imagens por acção dos raios luminosos. Desenvolve várias experiências e obtém imagens que não consegue fixar.


Foi com betume branco da Judeia que Niépce conseguiu a sua primeira imagem. Dá-se o nome de betume da Judeia ao asfalto natural, substância de composição semelhante à do asfalto que resulta da destilação do petróleo bruto. Niépce, cobriu uma placa de estanho com betuma da Judeia, que tem a propriedade de endurecer quando atingida pela luz, usou essa placa na sua câmara escura com uma exposição de cerca de 10 horas, depois retirou as partes do betume não afectadas pela luz, com uma solução de essência de alfazema. E assim surge a primeira fotografia permanente do mundo. Niépce chama ao seu procedimento, heliografia.

1799-1851 Louis Jacques Mandé Daguerre, pintor e cenarista, torna a imagem acessível ao grande público, com o seu processo denominado, "Daguerreótipo", desenvolvido em 1838 e comercializado em 1839.

Niépce recorre com frequência a uma das melhores casas de material óptico de Paris, afim de conseguir lentes para as suas câmaras escuras. Por intermédio do proprietário da casa, o óptico Chevalier, Niépce entrou em contacto com Daguerre. este último, utilizava a câmara escura para preparar os seus cenários. Daguerre interessa-se pelo trabalho de Niépce e durante algum tempo trocaram correspondência, até que se encontraram em Paris em 1827. Em 1828/29 firmaram um acordo afim de prosseguirem as investigações conjuntamente.

Niépce morre em 1833 sem alcançar notoriedade nem ver reconhecido o seu invento.

Daguerre, pouco tempo depois da morte de Niépce, encontra a fórmula de impressionar uma placa de cobre coberta por uma fina camada de prata, depois, revelou a imagem latente, com vapor de mercúrio. Para fixação, inicialmente, foi usado sal marinho, posteriormente, usava tiossulfato de sódio que garantia mais durabilidade à imagem. Este processo foi baptizado com o nome de Daguerreótipia.


1800-1877 William Henry Fox Talbot, matemático e filólogo Inglês, foi o grande percutor do actual sistema negativo-positivo. Desenvolve um processo dito de "desenho fotogénico" em 1835, descobrindo em paralelo com Daguerre, o segredo da imagem latente. Nesse ano, Talbot construiu uma pequena câmara escura de madeira com 6,30 cm2. A câmara foi carregada com papel de cloreto de prata, e de acordo com a objectiva utilizada, era necessário de meia hora a uma hora de exposição. A imagem negativa era fixada com sal de cozinha e submetida a um contacto com outro papel sensível. Deste modo obtinha-se a cópia positiva.


No ano seguinte, substitui o material sensível por iodeto de prata, que após exposição, era revelado com ácido gálico, mantendo no entanto, o papel de cloreto de prata para as cópias.

Assim, surge um processo fotográfico, inicialmente baptizado Calotipia, mais tarde ficou conhecido como Talbotipia, sendo patenteado em Inglaterra em 1841. A partir daí, Talbot fotografou paisagens turísticas e comercializou cópias em quiosques e tendas em toda a Gran Bretanha.


Em 1844, Talbot publicou o livro "The penci of Nature", o primeiro livro do mundo ilustrado com fotografias. O uso do vidro como suporte para o negativo era uma necessidade, no entanto, havia a dificuldade de segurar de forma eficaz os sais de prata numa placa de vidro, de forma a que estes não se dissolvessem durante a revelação. 1805-1870 Abel Niépce de Saint-Victor, primo de Niéphore Niépce, descobriu em 1847 o método da albumina. O método consiste no seguinte: uma placa de vidro era coberta com clara de ovo, sensibilizada com iodeto de potássio submetida a uma solução ácida de nitrato de prata, revelada com ácido gálico e fixada com tiossulfato de sódio. Mas, o método da albumina, apesar de proporcionar boa precisão de detalhe, requeria cerca de 15 minutos de exposição e a sua preparação era muito complexa.

Em 1851 ano da morte de Daguerre e da "Grande Exposição" na Grã Bretanha, surge um invento que em pouco tempo suplantou todos os métodos até aí existentes. O processo designado de "colódio húmido" de     Frederick Scott Archer, consistia na mistura de algodão de pólvora com álcool e éter, para unir os sais de prata nas placas de vidro.

As placas de colódio eram 10 vezes mais sensíveis que as de albumina, devido à maior concentração de sais de prata. Tinha como único inconveniente, a obrigatoriedade de expor as placas ainda húmidas, portanto, num curto espaço de tempo.

Archer não patenteou o seu processo, e morreu quase desconhecido e na miséria.

Em 1871 Richard Leach Maddox, divulgou no British Journal of Photograph, as suas experiências com uma emulsão de gelatina e brometo de prata, em substituição do colódio. Este processo era muito mais lento que o colódio, mas foi aperfeiçoado e acelerado por John Burgess, Richard Kennett e Charles Bennett. A placa seca de gelatina estabelecia a era moderna do material fotográfico e rapidamente várias empresas iniciaram a fabricação de placas de gelatina seca em quantidades industriais.
George Eastman

As placas secas de gelatina, apesar do avanço relativamente ao colódio, tinham o inconveniente de serem pesadas, frágeis e o fotógrafo perdia muito tempo a substituir a placa na câmara. Portanto, os passos seguintes visavam substituir o vidro por um suporte menos pesado e mais prático. A solução surge pela mão dos Americanos George Eastman e W. H. Walker, que em 1884 criam o "American Film", com suporte maleável de gelatina pura, coberta por uma solução de gelatina-brometo de prata.


A fotografia em Portugal

Carlos Relvas nasceu na Golegã em 1838, e foi o nome que mais contribuiu para o desenvolvimento da fotografia em Portugal, e um dos principais do Mundo: inventor, cavaleiro tauromáquico e fotógrafo.

Edificou o primeiro "atelier" de fotografia do mundo, foi destinguindo nos maiores certames de fotografia da época, recebeu quatro diplomas, foi eleito membro efectivo de outras tantas instituições, entre elas, a Sociedade Francesa de fotografia.

Viajou por toda a Europa e estabeleceu contacto com os principais nomes da fotografia Europeia, aproveitando como ninguém, os desenvolvimentos técnicos da época.

Foi retratista, fotografou mendigos, pescadores, escritores, políticos, artistas, etc.; fotografou o Ribatejo; em estúdio, fotografou destacadas figuras femininas da época e, fotografou o nu feminino.

Brito Aranha em 1878 escreveu no "Universo Ilustrado": "Todos sabem que o senhor Carlos Relvas é o primeiro fotógrafo amador em Portugal e um dos primeiros no estrangeiro, e que a sua galeria e o seu laboratório fotográfico excedem o que possa imaginar-se em luxo de ornamentações, em abundância de espécimens resplandecentes e em profusão de máquinas e utensílios dos melhores autores".

Mais recentemente, Michael Gray, conservador do museu de fotografia Fox Talbot, disse ao Jornal Expresso em 1998: "É uma das mais importantes estruturas na Europa ligadas à fotografia. Não há nada de comparável que seja conhecido. Além disso, é um património não só de Portugal mas da Europa, e a Europa também se devia mobilizar para o proteger, bem como para tornar conhecido o trabalho de Relvas. Mas é um trabalho que devia começar por Portugal".

Apesar de tudo isto, Carlos Relvas e o seu trabalho, continuam praticamente desconhecidos quer em Portugal, quer no Mundo.

O processo fotográfico actual, pouco varia do processo do início do século XX. Por isso se atribui ao século XIX a invenção da fotografia como a conhecemos hoje. No século XX assistiu-se à evolução das técnicas de controle e ao aparecimento da fotografia a cores, cinema e todos os usos científicos utilizados hoje.



Ana Cristina 

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