sexta-feira, 20 de maio de 2011

Diálogo sobre o museu

Diálogo sobre o museu

 O museu e a Escola: diferentes histórias de amor e ódio – III

Recebi um email, dia 24/3, que me perguntava: Olá. Gostaria de saber - na sua opinião - o que leva uma pessoa a ir a um Museu? Na verdade gostaria que vc dividisse a pergunta: o que leva uma criança/adolescente ao Museu? E o que leva um adulto ao judiem? Obviamente uma pergunta dessa magnitude não seria respondida de pronto, via email... mas fiz um exercício de síntese e escrevi na ocasião: São inúmeras as razões que levam as diferentes pessoas aos diversos museus. Elencaria que o "querer saber", basicamente impulsionado pela curiosidade, é a mola mestra de toda busca pelo conhecimento, não importa de que tipo. Os museus, particularmente nos dias atuais, são espaços de encontro, troca, constituição identidária, reflexão alteritária; espaços de descobertas, produção de sentidos, indagações... locais de maravilhamento e encantamento. Isso me parece o bastante para qualquer pessoa - independente de gênero, classe social, opção sexual, etnia, credo ou nível de escolaridade - poder adentrar e aproveitar uma experiência museal.
Não acho que seja a única resposta, tampouco a melhor, mas quero tomá-la como base para continuar nossa discussão sobre a relação museus x escola. Serão essas as razões pelas quais as escolas vão aos museus? Para proporcionar momentos de deleite em seus alunos? Ou para melhorar a assimilação de conteúdos? Podemos inverter a questão: como os museus se oferecem às escolas? Será que se pensam e veem como espaços de descoberta e prazer? Ou entendem seu papel como o de “auxiliar” de ensino?
Escolho como exemplo para nosso início de conversa os comentários que acabei de ler no “Blog do Vinícius”, da Escola Municipal Vinícius de Moraes, em Belo Horizonte. Ali encontrei uma postagem curtinha, com fotos, sobre a ida de uma turma do 3º. Ciclo ao Museu de Artes e Ofícios em julho/2010. Mas o que tomo aqui como ponto de partida foi justamente o comentário de duas meninas que participaram da visita: Lorena Gabriela e Larissa Lorrayne [grifos meus].
Lorena escreve: Gostei muito desse dia, pois nós nos divertimos muito como também aprendemos bastante coisa!!”
Já escrevi inúmeras vezes aqui no Blog sobre a perspectiva do museu como locus de aprendizagem – o que parece ser confirmado nos 3 comentários das alunas visitantes supra-citadas. Claro que o fato de ser uma visita agendada por um grupo escolar e eu ter retirado o comentário de um blog escolar pode ter contribuído para esse tom... mas, de verdade, essa perspectiva não me parece polêmica. Um tanto mais polêmica é a ideia de que o museu pode ser um “lugar legal” e divertido! Reparem que as duas primerias depoentes trazem esse âmbito para a questão museal: e a segunda, então, chama a ida o museu de “excursão”. Pronto! Está feito o caldo para o caldeirão das bruxas! Longe de ser consenso, a ideia de ida ao museu como momento de deleite, prazer, descontração, encantamento, maravilhamento... e, portanto, muitas vezes associada a turismo, lazer, férias, “excursão” chega a arrepiar alguns profissionais dos museus (e, sobretudo, das escolas!) que, então, tentam (as duas partes!) explicitar pedagogicamente, com todas as letras, de forma bem amarradinha, a finalidade da visita!
Vamos pensar juntos: a escola tem objetivos e programas a cumprir – sem dúvida; os museus podem ser parceiros/complementares por exporem os objetos do conhecimento de uma forma outra; por possibilitarem, como também já escrevi antes, que se deflagre ali uma relação de aprendizagem com os objetos e não apenas sobre eles – isso também não há dúvidas... A dúvida me parece nascer quando nos perguntamos: para atrair as escolas, os museus devem, então, procurar “encaixar-se” nas suas demandas pedagógicas, nas suas grades curriculares, nas suas formas de ação educativa? Ou devem resguardar e preservar suas especificidades museais e, diferentemente, auxiliar na ampliação dos horizontes dos tantos alunos e alunas que por ali passam, desacomodando-os do jeito de pensar escolar e provocando outros olhares, novas indagações, diferentes associações de ideias, pontos de vistas diversos?
Da mesma forma, podemos inverter: deve a escola procurar idas aos museus apenas como uma espécie de laboratórios práticos de seus conteúdos? Ou podem perceber a ida ao museu como uma oportunidade de fazer relações interdisciplinares, de ouvir seus educandos, conhecer como pensam e de que forma enfrentam o novo e o diferente?
Quem sabe não são os museus os que mais podem ajudar a ILUMUNIAR esses a-lunos (= sem luz)? E que mal tem de pensarmos escolas que propõem excursões produtivas, criativas, enriquecedoras, provocativas, plenas de encantamento e magia?

 Ana Cristina

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