terça-feira, 17 de maio de 2011

reflexão

TEMPO LIVRE

Este trabalho refere-se ao tempo livre, conceito descrito por Adorno, estabelecendo a relação com “hobby”. A questão do tempo livre: o que as pessoas fazem como ele, que chances eventualmente oferece o seu desenvolvimento, não pode ser formulada em generalidade abstrata. Antes se dizia ócio, e este era um privilégio de uma vida folgada. O ócio de acordo com o autor aponta uma diferença que o distingue do tempo não livre. O tempo livre é acorrentado ao seu oposto, tornando-se paródia.
Fazendo uso de uma experiência pessoal, o autor esclarece sobre seu ‘hobby’, relatando que não possui nenhum , mas não por ser uma besta de trabalho, mas, por aquilo com que se ocupa fora da profissão oficial, é, para ele, sem exceção, tão sério que o próprio sentir-se-ia chocado com a idéia de que se tratasse de ‘hobby’.
Segundo o autor, quando se aceita como verdadeiro o pensamento de Marx, de que na sociedade burguesa a força de trabalho tornou-se mercadoria e, por isso, o trabalho foi coisificado, então a palavra ‘hobby’ conduz ao paradoxo de que aquele estado, que se entende como o contrário de coisificação, como reserva de vida imediata em um sistema total completamente mediado, é, por sua vez, coisificado da mesma maneira que a rígida delimitação entre trabalho e tempo livre (p. 72).
De acordo com o texto, o tempo em que se está “livre” tem por função restaurar a força de trabalho, o tempo livre do trabalho – precisamente porque é um mero apêndice do trabalho – vem a ser separado deste com zelo puritano. Aqui nos deparamos, segundo o autor, com um esquema de conduta de caráter burguês. Por um lado, deve-se estar concentrado no trabalho, sem distração, por outro lado, deve o tempo livre, provavelmente para que depois se possa trabalhar melhor, não lembrar em nada de trabalho.
Segundo Adorno, devemos procurar saber o que fazer com o “nosso tempo” livre por si só torna este tempo se torna algo nulo, não livre, ou ainda, abstrato, como diria Hegel. Portanto, “o fetichismo que medra no tempo livre está sujeito a controles sociais suplementares.”(p. 75). Adorno entende que o tempo livre deve privilegiar sempre a autonomia do indivíduo, determinadas pelas próprias pessoas enquanto seres livres, dificultando com isso que se instale o tédio, descrito como reflexo do cinza objetivo, sentimento de impotência, desespero objetivo, mais, já lhes foi amputado o que poderia tornar prazeroso, o tempo livre. Adorno cita exemplos de tempo livre em função do lucro, do comércio, onde a própria necessidade de liberdade é funcionalizada e reproduzida por estes, como exemplos de atividades do tempo livre, temos o turismo e o camping.
Adorno também cita como decisivo do tempo livre nas condições atuais, o tédio, que existe em função da vida sob a coação do trabalho e sob a rigorosa divisão do trabalho. Não teria que existir. Sempre que a conduta no tempo livre é verdadeiramente autônoma, determinada pelas próprias pessoas enquanto seres livres, é difícil que se instale o tédio; tampouco ali onde elas perseguem seu anseio de felicidade, ou onde sua atividade no tempo livre é racional em si mesma, como algo em si pleno de sentido. O próprio bobear não precisa ser obtuso, podendo ser beatificamente desfrutado como dispensa dos autocontroles. Se as pessoas pudessem decidir sobre si mesmas e sobre suas vidas, se não estivessem encerradas no sempre-igual, então não se entediariam (p. 76). E em íntima relação com o tédio, Adorno relata que esta o sentimento, de impotência: tédio é o desespero objetivo.´a falta de fantasia, implantada e insistentemente recomendada pela sociedade, deixa as pessoas desamparadas em seu tempo livre.
Sob as condições vigentes, seria inoportuno e insensato esperar ou exigir das pessoas que realizem algo produtivo em seu tempo livre, uma vez que se destruiu nelas justamente a produtividade, a capacidade criativa. 
As atividades supérfluas, para Adorno, são integradas pela sociedade a partir de certas formas de serviços, especialmente os domésticos e faz duras críticas. O “do it yourself”, um tipo de comportamento recomendado atualmente para o tempo livre, inscreve-se, não obstante, em um contexto mais amplo. Eu já o designei, há mais de trinta anos atrás, como pseudo-atividade. (...) Pseudo-atividade é espontaneidade mal orientada, mas não por acaso, mas sim, porque as pessoas preferem deixar-se desviar para atividades aparentes, ilusórias. O tempo livre, entretanto, não esta em oposição somente com o trabalho. O tempo livre segue diretamente o trabalho como sua sombra.
Ainda sobre o tempo livre e a indústria cultural, Adorno e Horkheimer introduziram um conceito de que a produção regula o consumo tanto na vida material quanto na espiritual, e que, as pessoas aceitam e consomem o que a indústria cultural lhes oferece para o tempo livre, mas com um tipo de reserva, penso porem, que se vislumbra ai uma chance de emancipação que poderia, enfim, contribuir algum dia com a sua parte para que o tempo livre se transforme em liberdade.

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Adorno, Theodor W. Tempo Livre. Trad. Maria Helena Ruschel. Sup. Álvaro Valls. p. 70-82. Petrópolis-RJ: Vozes, 1995.

Edi Sartori

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